terça-feira, 12 de julho de 2016

Geração de Valores



Somos uma geração de valores inversos, digo isso, pois os que ainda prezam possuir valores os invertem, os corrompem; o mesmo acontece com os vícios.

Assim como o orgulho, agora revertido a uma virtude, a vaidade é causadora de motivação, nos leva a sermos melhores que o outro, motiva a termos um carro mais caro, ou alguns quilos a menos. É automático e inevitável, ao vermos alguém com algo novo, fazendo algo novo, algo em nós desperta, como um gigante, e diz que podemos ter mais ou ser melhor que aquele alguém, porque somos melhores que ele; bem aventurado é quem conseguir botá-lo para dormir novamente. E, além de tudo isso, depois de bancarmos os idiotas competitivos, ainda temos a necessidade de publicar em redes sociais o “novo” que adquirimos.

Se nossa geração já é assim, imagine as próximas? Onde tudo fere os direitos humanos, onde quanto mais se tem, melhor se é, pois é assim que estamos educando nossas crianças.



Ana Karoline de Lara Costa

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A consciência - 1os anos.

     Com auxílio do livro Fundamentos da Filosofia de Gilberto Cotrim e Mirna Fernandes da-se inicio a uma investigação consciente em relação a consciência.
     Afinal, o que é consciência? Como perceber o que acontece?
     
Exercício 1: 
     Inciamos com o texto "A borboleta"- Chuang Tsu, filósofo chinês da escola Taoísta.


O Homem e a Borboleta
Chuang Teu

Uma vez eu sonhei que era uma borboleta,
Voando entre as flores e arbustos do jardim.
Tudo era tão concreto e real
Que em momento nenhum do meu sonho
Suspeitei que a borboleta era eu
Ou que eu fosse a borboleta.
Para todos os efeitos possíveis e imagináveis,
Eu era, eu agia e eu realmente me sentia uma borboleta,
Cumprindo o destino de uma borboleta qualquer.
De repente, eu acordei
E lá estava eu, sendo a pessoa que eu sempre fui
– ou que sempre imaginei ser.
Sei muito bem
Que entre um homem e uma borboleta
Há tantas diferenças fundamentais e insuperáveis
Que a transformação de um no outro
É algo simplesmente impossível de acontecer no mundo real.
É por isso que, desde então,
Eu nunca mais tive sossego
Quanto à minha verdadeira identidade.
Pois não há nada que me permita saber,
Com toda certeza e rigor,
Sem nenhuma margem de dúvida,
Se eu sou verdadeiramente um homem,
Que um dia sonhou que era uma borboleta,
Ou se eu sou uma borboleta,
Sonhando que é um homem.

Reflexão em forma de exercício: 
Reflita sobre: Quem é você? Quais seus sonhos? O que fazes para realizá-lo? Suas metas de vida? Seus segredos mais secretos? Seus medos? Escreva as respostas em forma  poética em seu caderno.

Exercício 2: 

Meditação -  Sente-se ou deite-se relaxando todo o corpo e prestando atenção na respiração. Observar o ar entrando e saindo pelas narinas. Procurar não pensar em nada, colocando a atenção para este "eu" que respira e inspira sem cessar por meia hora. Após elaborar um texto sobre essa experiência, contendo dificuldades e descobertas desta experiência de observação da consciência.

Conceitos/ Teorias/ Fundamentação - Textos para criação do mapa foram disponibilizados aos estudantes.

Exercício 3: 

Criação de Mapa Conceitual com os eixos – Inconsciente e psicologia, Skinner, séc. XIX, Séc. XX, Gestalt; Inconsciente e psicanálise, Freud, aparelho psíquico, id, ego, superego.

Um pouco mais de fundamentação com o Vídeo: 

Freud (Globo Ciência)



Exercício 4: 
Mapa de projeção: Sonhos e realizações.

Exercício de imaginação ativa onde os estudantes construíram um mapa com seus desejos, sonhos  e realizações futuras. 

RESULTADO:
















Exercício 5:
Construção de mandalas: introduzido na psicologia por C. G. Jung para designar uma representação simbólica da totalidade. Fundamentação do exercício pode no link :

RESULTADO:









     Amei mediar esse caminho regado de conhecimentos e descobertas de mundo e de si.
Filosofia se faz com conceitos e com prática. Filosofar é o resultado. Satisfação uma das consequências. Logo tem mais (...)






quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Ser humano: Natureza e cultura

O que somos nós, os seres humanos?
Existe uma natureza humana?
Quanto de nós é natureza, quanto é cultura?
Somos seres livres ou predeterminados?

Com base nestas questões reflexivas, iniciamos nossa investigação acerca do ser humano como natureza e cultura. Dentro da arqueologia dispomos dos pensamentos de Gordon Childe e Claude Lévi-Strauss em relação ao animal humano, condutas inatas e apreendidas, linguagem simbólica, nos atendo também aos estudos da biologia humana, a antroposfera, biofera, a plasticidade humana, o cosmo humano como um todo. O pensamento de Marx (trabalho) também orientou a discussão na busca do entendimento do ser. Temas como especismo, sexismo e racismo, foram utilizados para debate e produção textual. Como ilustração foi assistido um trecho do filme de Marcelo Mazagão "Nós que aqui estamos por vós esperamos", resumo
das conquistas e comportamento humano no século XX. Como trabalho de conclusão, foi solicitado aos estudantes uma investigação, pesquisa com familiares, sobre origem da família, comidas, bebidas, usos e costumes, móveis e utensílios, religião, festas, cantos e tradições, vestimentas, histórias de antigamente, contos (...) O objetivo da pesquisa é integrar o ser social presente com o ser histórico. Desta feita, acontece a integração conteúdo e prática do filosofar.
Segue imagens da micro exposição da investigação realizada.


Casamento dos bisavós
Ponte antiga na região de Campo Alegre
Lembrança de batismo da Evelyn 
Objeto
Mãe da Evelyn
 
Costume religioso dos tempos dos avós da Fabiana
Caixinha trazida da Alemanha por familiares de Cristhian Rodrigo Anacleto

Entalhe de madeira realizado pelo avô de Sabrina

Tradição da cuca de queijo e do pão caseiro da família de
Victor Hugo Vicenzi Steinert

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Filosofia 1os Anos. Origens

 

Texto: A alegoria da caverna – A República (514a-517c) 

Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. 
Glauco: Entendo 
Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro, imagine homens que carregam todo o tipo de objetos fabricados, ultrapassando a altura do muro; estátuas de homens, figuras de animais, de pedra, madeira ou qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que desfilam ao longo do muro, alguns falam, outros se calam. 
Glauco: Estranha descrição e estranhos prisioneiros! 
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você pensa que, na situação deles, eles tenham visto algo mais do que as sombras de si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente?
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça imóvel? 
Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam? 
Glauco: É claro. 
Sócrates: Então, se eles pudessem conversar, não acha que, nomeando as sombras que vêem, pensariam nomear seres reais?
Glauco: Evidentemente. 
Sócrates: E se, além disso, houvesse um eco vindo da parede diante deles, quando um dos que passam ao longo do pequeno muro falasse, não acha que eles tomariam essa voz pela da sombra que desfila à sua frente? 
Glauco: Sim, por Zeus. 
Sócrates: Assim sendo, os homens que estão nessas condições não poderiam considerar nada como verdadeiro, a não ser as sombras dos objetos fabricados. 
Glauco: Não poderia ser de outra forma. 
Sócrates: Veja agora o que aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e curados de sua desrazão. Tudo não aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente. Na sua opinião, o que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? 
Glauco: Certamente, elas lhe pareceriam mais verdadeiras.
Sócrates: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram? 
Glauco: Sem dúvida alguma.
Sócrates: E se o tirarem de lá à força, se o fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado para fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz de ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros. 
Glauco: Ele não poderá vê-los, pelo menos nos primeiros momentos.
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos refletidas na água, depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros e da lua mais facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol. 
Glauco: Sem dúvida. 
Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no lugar do sol, o sol tal como é.
Glauco: Certamente.
Sócrates: Depois disso, poderá raciocinar a respeito do sol, concluir que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível, e que é, de algum modo a causa de tudo o que ele e seus companheiros viam na caverna. 
Glauco: É indubitável que ele chegará a essa conclusão.
Sócrates: Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles? 
Glauco: Claro que sim. 
Sócrates: Quanto às honras e louvores que eles se atribuíam mutuamente outrora, quanto às recompensas concedidas àquele que fosse dotado de uma visão mais aguda para discernir a passagem das sombras na parede e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão daquelas que precedem certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por isso mesmo, era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, acha que nosso homem teria inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros lhe dariam inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais vale “viver como escravo de um lavrador” e suportar qualquer provação do que voltar à visão ilusória da caverna e viver como se vive lá? 
Glauco: Concordo com você. Ele aceitaria qualquer provação para não viver como se vive lá. 
Sócrates: Reflita ainda nisto: suponha que esse homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol? 
Glauco: Naturalmente.
Sócrates: E se ele tivesse que emitir de novo um juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços, fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o matariam? 
Glauco: Sem dúvida alguma, eles o matariam. 
Sócrates: E agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos anteriormente. Devemos assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o caso eis o que me aparece tal como me aparece; nos últimos limites do mundo inteligível aparece-me a idéia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento que é preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada, seja na vida pública. 
Glauco: Tanto quanto sou capaz de compreender-te, concordo contigo. 

Referência: A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c tradução de Lucy Magalhães. In: MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos Pré- socráticos a Wittgenstein. 2a ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf




quinta-feira, 6 de novembro de 2014

“MOVIMENTANDO OS SENTIMENTOS” - Projeto finalista no XV Prêmio Arte na Escola Cidadã 2014

                A E.E.M. Abdon Batista, onde o projeto foi desenvolvido, possui o ensino inovador. O Programa Ensino Médio Inovador- ProEMI, instituído pela Portaria nº 971, de 9 de outubro de 2009, integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, como estratégia do Governo Federal para induzir a reestruturação dos currículos do Ensino Médio.O objetivo do ProEMI é apoiar e fortalecer o desenvolvimento de propostas curriculares inovadoras nas escolas de ensino médio, ampliando o tempo dos estudantes na escola e buscando garantir a formação integral com a inserção de atividades que tornem o currículo mais dinâmico, atendendo também as expectativas dos estudantes do Ensino Médio e às demandas da sociedade contemporânea. Os alunos permanecem em período integral na escola e além das disciplinas regulares, a grade possui disciplinas como literatura, futebol, teatro, música e dança. Os profissionais desta escola se reúnem uma vez por semana para realizar o planejamento semanal e mensal.
             Iniciei minhas atividades docentes na escola com a disciplina de filosofia. Como a direção tinha conhecimento do meu envolvimento com as artes, surgiu à proposta de assumir as aulas da disciplina curricular de dança. Proposta prontamente aceitas, principalmente pelo desafio que seria lecionar dança dentro do currículo, linguagem essa que gera polêmica e discussão quando se trata de escola/obrigatoriedade/leis.
            Já no inicio das aulas minha intuição bradava que não seria fácil. Encontrei dificuldades até no grupo de professores, que não conseguia ver viabilidade na disciplina. Alguns tinham o desejo gritado de substituir a mesma por algo mais tecnicista. E para dificultar, alguns alunos pensavam o mesmo.
            Minha estratégia foi à sensibilização. Primeiro dos alunos e por conseqüência a dos professores. Mas para quebrar as barreiras, primeiro preferi conhecer minha clientela com exercícios de sondagem para ao final elaborar o projeto “MOVIMENTANDO OS SENTIMENTOS”.
            No inicio de tudo só conseguia ver como positivo, a sala ambiente que era muito bem equipada, com aparelhos de som, TV, projetor multimídia, colchonetes e espelhos.
            A escola está situada na cidade de Jaraguá do sul, norte de Santa Catarina. Cidade com parque industrial forte e diversificado: malharias e confecções, metal-mecânica e produtos alimentícios. Jaraguá do Sul é uma cidade de povo que gosta do trabalho, sua cultura é identificada nas atividades das etnias formadoras de seu povo: negros, alemães, húngaros e poloneses. Essa característica social de identificação fácil na cidade talvez justifique o pensamento encontrado nos primeiros contatos com a escola.
            Para ampliar minhas expectativas, tracei metas. A principal era fomentar dança. Para que esta se realizasse o encantamento necessitava acontecer, de dentro para fora. Como a rejeição foi minha primeira emoção, decidi trabalhar com a emoção dos estudantes, transformando as mesmas em dança. Um registro de tudo seria valioso para ambos os lados, para que eu pudesse avaliar e para o estudante não esquecer as emoções afloradas, então como método de avaliação, elencou-se o diário de bordo, nada mais que um caderno onde todas as aulas seriam registradas.
                Busquei fontes para embasamento, já conhecia “Improvisação para o Teatro” de Viola Spolin. Os jogos foram adaptados para a realidade dos estudantes. Da autora Isabel Marques conhecia alguns artigos e a preocupação com o ensino da dança. Logo encontro o livro Ensino de dança hoje - textos e contextos, que acaba orientando o processo pedagógico da dança.

Processo criativo...
            As aulas seguiriam sempre a mesma dinâmica:
1. Alongamento - de acordo com o programado para o dia, aproximadamente 10 minutos;
2. Exercício do dia;
3. Volta calma - como teriam aulas após a dança, o corpo/mente deveria se acalmar para as próximas disciplinas, em torno de 10 minutos;
4. Diário de bordo - relatório sobre como foi à aula, sentimentos e percepções, sem número de linhas específico, cada qual de acordo com sua necessidade de expressão, cerca de 5 minutos para realizar.

            Narro alguns exercícios, todos com o mesmo intuito de aflorar um ser que dança, aqui surge o termo “dançante” que cito em várias frases, a junção de dança e estudante.
            Na nossa primeira aula, eu não os conhecia, muito menos eles a mim. Descubro pelas primeiras falas que “ensino médio, “não dança”, “nem gosta de atividades físicas”, “tem vergonha de se expor”... O que mais se ouvia: “somos travados”, “não quero fazer”, “o que irão dizer de mim”?  Sugeri uma tentativa e após explicar qual seria nosso método daquele dia em diante, orientei para que apenas caminhassem pela sala, movimentando-se para todos os lados. Passado um tempo, sugeri que fechassem os olhos, e buscassem confiança para caminhar para todas as direções, sentindo o ar que nos cerca, ouvindo o silêncio e se orientando por ele, de olhos fechados cortando o ar com as mãos, nas várias direções existentes. Após, parar em frente a um parceiro e sentir sua respiração, com o toque das mãos, perceber o quanto ele é pessoa assim como todos, que pensa e sente e está apavorado neste primeiro contato de aula. Ao término do exercício, tempo para registro da aula no diário de bordo.
            Nosso primeiro exercício foi simples e desafiador, caminhar de olhos fechados num ambiente que não conheço com pessoas que não conheço, aqui quebramos alguns tijolos da barreira que nos separava.


           Após este contato inicial, resolvi fazer uma sondagem para perceber o terreno que estava pisando. E para alegria, era uma terra pronta para produzir. Alguns exercícios de sondagem foram realizados, como atividades de caminhada em sala de aula, com ou sem som, com paradas e orientação, alongamentos em pé e deitado, improvisação em dança, partindo de frases, de poesia, de situações, de músicas escolhidas pelos estudantes.           
            Passado a sondagem, tracei meus planos, criar coreografias com os sentimentos dos alunos. Iniciei assim vários outros exercícios, como as dinâmicas de grupo (dinâmicas de entrosamento e socialização), aprendendo a caminhar, movimentar o corpo, exercícios de relaxamento, criar movimento para o nome (um movimentos para o primeiro nome, depois formamos equipes e ao som de músicas os movimentos foram reproduzidos “dançados”), aprendendo a apresentar, dinâmica do pensamento...
            Na dinâmica do pensamento, iniciamos com um alongamento. Após uma “exaustão”, movimentos rápidos para todas as direções em diversos níveis, com finalidade de cansar os músculos do corpo. Em seguida, solicitei que deitassem nos colchonetes e com olhos fechados, ao som de uma calma música se imaginassem caminhando por um local lindo, cheio de belas árvores e flores coloridas e que neste lugar encontrariam uma “Lembrança triste da infância”, num tempo de 10 minutos eles permaneciam pensando, depois sentados formando uma roda, poderiam falar sobre os sentimentos que afloraram em seguida escolher uma palavra representativa ao que sentiram. Logo, criavam um movimento para a palavra. Este movimento se transformaria em partitura, e esta em nossa coreografia final.

            A mesma dinâmica se desdobrou em temas como “Desabafando com desafetos” onde no momento de imaginar encontravam no local lindo, alguém pelo qual nutriam sentimentos como raiva, medo, terror, mágoa, ou qualquer outro sentimento dolorido. Ao encontrar a pessoa em seu pensamento, todos os sentimentos reprimidos deveriam ser colocados para fora, pela conversa com este ser imaginário; E ainda numa outra aula, “Agradecendo aos seus amores”, onde poderiam mentalmente agradecer as pessoas que amam, e dizer tudo o que sentem, já que na realidade sempre é bastante difícil de fazer.

         Seguindo o processo de criação, passeamos pela parte técnica no “fazer rolamentos”, “fazer ponte”, ”parada de mão”, ”espacate”, todos feitos em grupos, uns ajudando os outros.


            Divididos em grupos os estudantes realizaram pesquisas sobre a história da dança, também levantaram informações sobre a vida e obra de grandes bailarinos e a evolução das modalidades em dança. Trabalho este apresentado em slides. Assistimos curtas sobre Isadora Duncan, Martha Graham, Grupo cena 11, Grupo Corpo, Curtas sobre apresentações realizadas no Festival de dança de Joinville.  Em conjunto, assistiram ao filme Step Up 4 , que trata de um flasch mob.
            Das improvisações, construídas até então, o grupo cria um flasch mob (empolgados com o filme) e apresenta para as outras turmas da escola. Nossa primeira apresentação em público, fora da sala de aula. Acredito que funcionou, pois fomos convidados a representar a escola numa conferência nacional de educação “Conae” fazendo a abertura da conferência que estava acontecendo na cidade.
            No dia da apresentação, chegamos duas horas mais cedo, espalhamos os grupos pelo auditório, que logo foi tomado por diretores e professores e quando fomos apresentados “era aluno saindo de tudo quanto é lado”, comentário de quem estava presente. Foi neste dia que caíram os últimos tijolos do muro que nos separava.

          
              A escola definitivamente tinha um grupo de dança. Resolvi fazer uma surpresa para os meus dançantes, convidei vários grupos profissionais de dança para fazer uma apresentação na escola, somente um atendeu. O projeto da Scar–Dentro da dança, trouxeram como modalidades o balé e a dança contemporânea.
          
                   E assim, alimentados pela dança, continuamos o nosso processo criativo. 

MÃOS DANÇANTES

                   METODOLOGIA: Sala organizada de forma harmoniosa, meia luz. Espalhar lápis de várias cores pela carteira, de maneira a ficar acessível às mãos. Sentar de forma confortável, não cruzar as pernas nem braços. Fechar os olhos e confiar. Exercício de respiração para acalmar. Ao iniciar a música, inicia a atividade. Desenhar conforme o ritmo da música, concentrar, deixar se levar pela emoção, escrever, desenhar, riscar o que os sentimentos permitirem, dançar com as mãos no papel. Única regra, abrir os olhos somente no final do exercício.
            Muitos detalhes sobre este exercício, fotos e filmagem, pode ser encontrado no blog: http://ecoisadeescola.blogspot.com.br/2013/03/danca-maos-dancantes.html

        Ao término do exercício surgiu a ideia de aumentar a proporção da atividade. Criamos então a atividade, "CORPO QUE DANÇA". Os lápis coloridos foram substituídos pelos corpos pintados e o papel por tecido. E assim foi, pintamos o corpo, fotografamos e dançamos sobre o tecido branco.


              Cada exercício, um sentimento no diário de bordo, cada sentimento um movimento (...). Foram tantos os exercícios realizados, no intuito de aflorar os sentimentos, que sinto em ter que eleger somente alguns para relatar, acredito que agora me deparei com minha maior dificuldade.

Festival de dança de Joinville

           Nas férias de julho acontece o maior festival de dança da América latina, o festival de dança de Joinville. Como a cidade de Jaraguá do Sul, fica próxima a Joinville, a visita ao festival não podia ficar fora projeto.
            O festival é uma escola aberta, bailarinos e professores circulam nos dias do evento pela cidade. Janela aberta para quem quer aprender e socializar.
            Antes de chegar ao maior festival de dança da América latina, paramos para visitar a exposição do artista Joinvillense, conhecido internacionalmente Juarez Machado. A exposição “Soixante-Dix” é relativa aos 70 anos de Juarez que a mais de 20 anos não expunha na cidade.


O FESTIVAL “Jaraguá em dança”...
            Apresentar os sentimentos em forma de dança, os sentimentos dantes lacrados no íntimo de cada estudante, para uma grande plateia, foi muito além das expectativas.
            Foram oito dias de apresentações, meus dançantes se apresentaram em cinco noites, oito coreografias e uma preparação gigante. Contei com a ajuda dos colegas professores para a maratona, visto que durante o dia, os alunos frequentaram normalmente as aulas e eu também.
            Nos dias de apresentação, ensaiávamos durante o almoço, fazendo revezamento entre os grupos. E ficávamos depois do horário de aula para que a mágica da maquiagem e caracterização acontecesse.
            Foi mais que um sonho, todos estavam envolvidos, até as merendeiras da escola, que preparavam lanches fora de horário para que ninguém saísse sem se alimentar.
         Os grupos que não se apresentavam na noite, auxiliavam na maquiagem, carregando bolsas, buscando água para os ansiosos, conversando e distraindo os colegas emocionados por tudo o que estava acontecendo. Foi um trabalho de equipe, agora todos faziam parte do mesmo sonho.



              Quando gostamos de algo, fica muito mais fácil aprender. E como aprenderam!!! Aprenderam a maquiar, a prender cabelos, a dividir material, a ter paciência com os colegas, a compreender o que se passa com o outro.
            Após a preparação, o espetáculo.
            O Jaraguá em dança aconteceu na Scar (sociedade artística da cidade). Como fizemos parte da categoria infanto-juvenil, as apresentações aconteceram durante a noite. Com inicio às 19h30min e término ás 21h00min. Saíamos da escola, que fica umas quatro quadras do local, caracterizados. No local do festival, já tinha professores e pais esperando, para auxiliar. Enquanto eu ficava na cabine de som, orientando a iluminação e paradas musicais, os professores acompanhavam os alunos na sala de espera, outros já estavam nos camarins e uns nas coxias espiando o trabalho que estava sendo apresentado no palco. Teve noites que apresentamos três vezes, outras apenas uma.



APRESENTAÇÕES:


Segue link das apresentações realizadas:










              Cada dinâmica/exercício, um sentimento. Cada sentimento, um movimento. Com os movimentos, uma coreografia. As músicas foram escolhidas em conjunto, os figurinos e maquiagens foram desenhados partindo da temática de cada coreografia. As temáticas foram surgindo durante o processo criativo. Os nomes dados as coreografias, nasceram da observação das temáticas, do grupo, dos figurinos e dos sentimentos em comum.
            “Ser fêmea é ser elegante”, narra à mulher/menina poderosa que trava batalhas umas com as outras por diferenças, sendo a maior batalha a interna, e percebe sempre ao final que unidas são fortes. 
                  “Não permita que o medo te impeça de tentar”, expõe os medos, os receios as violências que sabotam nosso ser e que nos cega muitas vezes para o lado bom da vida.
            “Entre a sanidade e a loucura”, comunica essa linha tênue, que separa a mente sadia da insana. A coreografia tem dois momentos, toda desenhada e dançada para frente e depois o retrocesso com os mesmos movimentos.
            “Indiscernibilidade”, fala sobre a mídia, que manipula, aprisiona que não permite que saibamos “as verdades”, trata da loucura do consumismo e a busca pela real liberdade de pensar.
            “O movimento impossível só está na nossa mente”, segue literalmente o que significado do título. Nossa mente, pensamentos e lembranças, enclausuram nossas ações, tornando-as conscientemente impossíveis. Aqui temos muito que pensar.
            “Num outro tempo é impróprio se dançar assim”, exprimi o comportamento através dos espaços/tempos. Beijo na mão, entrega de flores, pedir permissão para dançar/namorar. Situações ainda presentes em alguns locais, e fora da realidade de outros.
            “Lascívia” nasce do desejo das meninas expressarem o lado sensual sem ser vulgar, presente em todas. Foi uma brincadeira, coreografada em conjunto com elas, conversando sobre cada movimento, excluindo e explicando o porquê de alguns.
            Dança pedagógica não é como dança de academia, nem chega perto de grupos profissionais de dança. Na academia, os participantes pagam e escolhem o que querem ou não fazer. Nos grupos profissionais, são escolhidos por audição os melhores pela técnica e expressão, dentro de modalidades que os participantes já dominam.
            Dentro de uma sala de aula, no currículo escolar, o aluno deve ser encantado a “querer” fazer. Muitos chegaram “crus”, nunca tinham assistido a nenhum espetáculo de dança, e de repente iriam participar de um. A grande maioria só enxergava dança, quando se tratava de danças urbanas. Outros, por medo, vergonha, questões físicas e de gênero, simplesmente, não se permitiam encaixar no grupo.
            Quando o encantamento não acontece, por ser currículo/projeto, pelo menos o docente deve apresentar possibilidades aos estudantes de como ele pode se encaixar no projeto, naquela realidade dançante da qual ele não se enxerga. Aproveitando este entrave inicial, apresentei os profissionais que trabalham para que o espetáculo aconteça. É importante compreender que para o espetáculo acontecer, precisamos de equipe de apoio. E tivemos uma, composta por estudantes que não se identificaram com os palcos, mas com as coxias. E esta equipe fez toda a diferença, arrisco dizer que sem o apoio o espetáculo não seria o mesmo.
            Dentro do projeto, pelo tempo que tivemos a técnica em dança não foi à primazia do processo. O trabalho em equipe, os exercícios/dinâmicas, a pesquisa em história da dança, o re-conhecimento das várias modalidades foi o caminho valorado do processo. A construção do corpo/equipe, de repertório pelos vídeos e apresentações assistidos, pela pesquisa em história da dança, pela improvisação e experimentação de movimentos, as partituras surgidas pelos sentimentos, foram os caminhos elencados para a construção coreográfica.

APRESENTAÇÃO NAS ESCOLAS

            Passado o “Jaraguá em dança”, o grupo foi convidado a demonstrar o projeto em três escolas da região. As apresentações aconteceram em horário de aula, os dançantes foram dispensados para representar a escola. Nestas idas e vindas, eles exercitaram a responsabilidade e a paciência. Conheceram novas pessoas e idéias. Conquistaram novas amizades. Entre eles mesmos era visível o entrosamento, na   organização dos figurinos, com a maquiagem, todos aprenderam a maquiar, uns maquiavam os outros, todos eram responsáveis por todos. Havia o cuidado, o respeito, a cumplicidade.
             Pelas escolas que passamos, emoções foram deixadas.
            Nas escolas, não havia um palco iluminado, nem som adequado, mas o desejo de ser o artista que outrora foi estudado e assistido, e de mais uma vez poder apresentar os sentimentos em forma de dança,  sobrepunha as dificuldades estruturais. 



          Finais tendem a deixar pessoas tristes. Sabíamos que nosso projeto estava findando.
       O Jaraguá em dança já era para ser o fim. Surpresa foi o convite para realizar as apresentações nas escolas da região.
          Recolher e guardar os figurinos foram à prova da conclusão. A despedida regada de lágrimas em dezembro, resultado do quanto fomos felizes.
         Nossa única certeza é a de que algo havia mudado dentro de todos. Inclusive em mim.
      Hoje, um ano após o inicio de tudo, organizando o material para o portfólio, me emociono, com cada imagem, pois elas acordam as lembranças, as falas, as histórias, os segredos, as descobertas, o fazer criativo e todo o processo maravilhoso pelo qual professora e dançantes passaram.
             Hoje, não leciono mais para este grupo. Não faço parte do dia letivo deles. Mas vez por outra converso com alguém nas redes sociais da vida.
            Quando soube da classificação para a próxima etapa, pedi autorização para a escola e assim que foi permitido, fui dar a notícia aos dançantes.
            Eles já estavam na porta da escola quando cheguei, mas não todos. Alguns trocaram de escola, outros de turno.
            A saudade de tudo era igual em mim e neles. Já na sala de aula, quando li a inscrição do projeto, nova surpresa, eu sabia que tinha sido significativo, mas não imaginava que era tanto. Passado um ano eles tinham relatos dos exercícios vividos e das confidências, dos desbloqueios e conquistas, como se tudo tivesse acontecido ontem.
            E eles queriam participar da próxima etapa de alguma forma. “Vamos juntar todos e fazer uma nova coreografia”, sugeriu alguém, na esperança de que pudéssemos enganar o tempo.
            Difícil entender que não há como enganar o tempo, fingi uma explicação de que o que vivemos foi, o tempo e o espaço são outros, mesmo que tentássemos não seria a mesma coisa, e que devemos prosseguir, acredito que tentei me enganar também, sem muito efeito.
            Após uma semana, recebo um pen drive com depoimentos dos alunos. Sim, eles irão participar de alguma forma. Surpresa grata foi ouvir o depoimento do professor Teófilo de química, que acompanhou os dançantes nas noites de apresentação, sua compreensão do processo, apenas pela observação, se tornou meu maior regalo.


DEPOIMENTOS


Hoje elas dançam profissionalmente.










Depoimento : Professor Teófilo, Física.




PUBLICAÇÕES







Finalmente fecho este ciclo, para dar inicio a outros. 
Agradeço aos meus dançantes, certa de quem sem eles, nada seria possível!!! OBRIGADA (...)