(...) três pessoas em um bote com quase nenhuma chance de sobrevivência a não ser que uma dessas pessoas saia dele. As três pessoas são o capitão, que é quem sabe navegar, um homem forte e jovem e um velho fraco com um ombro quebrado e que não pode remar eficientemente. Parece haver três escolhas nesse dilema. A primeira é uma solução utilitária extrema, baseada na chance de salvar mais vidas. Essa solução exige que o capitão mande o velho saltar do bote. A segunda solução, que pode ser considerada a mais justa, seria tirar a sorte para ver quem deve pular. A terceira solução é aquela na qual ninguém pula do bote, caso em que há grande probabilidade de todos virem a morrer. Em resposta a esse dilema o Juiz D. diz: "Penso que eles realmente deveriam ter tirado a sorte. Esse método, pelo menos, seria consistente com minha convicção de igualdade dos seres humanos. Nenhuma vida é melhor que a outra e não há razão no mundo para dois tirarem a vida de outro. E o motivo é exatamente o mesmo a que venho me referindo, isto é, o respeito pela dignidade da vida humana". [...]
O Juiz D. resolve o dilema do bote salva vidas com o princípio de respeito pelas pessoas manifestado na opção de tirar a sorte. No entanto, ele não interpreta esse princípio como a obrigatoriedade de obter a concordância por meio do diálogo.
Ao contrário, a concepção de Joan de respeito pelas pessoas a leva a procurar o acordo por meio do diálogo a ponto de manter o diálogo, na situação do bote salva-vidas, embora, nessas condições, fique muito ameaçada a probabilidade de sobrevivência de todos:
- 'O que deve fazer o capitão?'
- 'Bem, não penso que o capitão deva fazer algo por conta própria, é claro. Acho que essa é uma decisão que precisa ser toada pelas três pessoas envolvidas'
- 'Como chegarão a tomar uma decisão - se nenhum deles que espontaneamente pular do bote- uma vez que isso faz parte da situação?
- 'Bem, certamente compreendo que naquele momento nenhum deles se voluntaria a saltar do barco. Sabe, isso é algo que precisa ser discutido por muito tempo e pensando individualmente e mais discutido. É uma decisão cooperativa. Ninguém tem o direito de tomar essa decisão isoladamente'. [...]
- 'Mas eles podem não chegar a um consenso.'
- 'Bem, acho que nessa situação é difícil acreditar que ninguém tomaria a decisão de pular do barco, mas, se não o fizerem, todos irão morrer. Quero dizer que os três estão na situação juntos, devendo haver uma decisão cooperativa ou nada'.
Entrar em diálogo seria moralmente necessário.
Quando afirmamos tal, também questionamos se o compromisso de Joan com a busca de acordo por meio do diálogo ate que todos morram seria a solução moralmente correta desse dilema. [...]
Retirado, pág. 232 Filosofando - Introdução à Filosofia. De Maria Lúcia de Arruda Aranha & Maria Helena Pires Martins.
PARA REFLETIR 2:
PARA PENSAR:
ÉTICA E MORAL
No contexto filosófico,
ética e moral possuem diferentes significados. A ética está associada ao estudo
fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento humano em
sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas
por cada sociedade.Os termos possuem origem etimológica distinta. A palavra
“ética” vem do Grego “ethos” que significa “modo de ser” ou “caráter”.
Já a palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que
significa “relativo aos costumes”.Ética é um conjunto de conhecimentos
extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar explicar as regras
morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica. É uma
reflexão sobre a moral.Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e
usadas continuamente por cada cidadão. Essas regras orientam cada indivíduo,
norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral,
certo ou errado, bom ou mau.