terça-feira, 16 de outubro de 2012
A verdade
Todo conhecimento coloca o problema da verdade. Pois quando
conhecemos, sempre nos perguntamos se o
enunciado corresponde ou não à realidade.
Comecemos distinguindo verdade e
realidade. Na linguagem cotidiana, freqüentemente os dois conceitos são
confundidos. Se nos referimos a um colar, a um quadro, a um dente, só podemos
afirmar que são reais e não verdadeiros ou falsos. Se dizemos que o colar ou o
dente são falsos, devemos reconhecer que o "falso" colar é uma verdadeira
bijuteria e o dente um verdadeiro dente postiço.
Isso porque a falsidade ou
veracidade não estão na coisa mesma, mas no juízo, e portanto no valor da nossa afirmação. Há verdade
ou não dependendo de como a coisa aparece para o sujeito que conhece. Por isso dizemos que algo é verdadeiro quando é o que
parece ser.
Assim, ao beber o líquido escuro que me parecia café,
descubro que o "falso" café é uma verdadeira cevada. A verdade ou falsidade existe apenas no
juízo "este líquido é café", no qual se estabelece o vínculo
entre sujeito e objeto, típico do processo do conhecimento. Resta, portanto
saber o que é a verdade enquanto juízo a respeito da realidade.
Para os escolásticos, filósofos medievais, "a verdade é a adequação do nosso pensamento as coisas".
O juízo seria verdadeiro se a representação fosse cópia fiel do objeto
representado. Essa definição sofreu posteriormente inúmeras críticas, sobretudo
quando, a partir da Idade Moderna, rompeu -se a crença de que a realidade do
mundo aí está para ser conhecida na sua transparência. Afinal, a questão é mais
complexa: como julgar a verdade da representação do real pelo pensamento? Ou
seja, como saber se a definição mesma de verdade é verdadeira? Além disso, a
filosofia moderna vai questionar a possibilidade mesma de conhecimento do real.
Isso nos remete para a discussão a respeito do critério da verdade.
Qual o sinal que permite reconhecer a verdade e distinguila do erro?
Para Descartes, o critério da
verdade é a evidência. Evidente é toda idéia clara e distinta, que se impõe
imediatamente e por si só ao espírito. Trata-se de uma evidência resultante da
intuição intelectual.
Para Nietzsche é verdadeiro tudo o que contribui para fomentar a vida
da espécie e falso tudo o que é obstáculo ao seu desenvolvimento.
Para o pragmatismo (William James, Dewey, Peirce), a prática é o
critério da verdade. Nesse caso, a verdade de uma proposição se estabelece a
partir de seus efeitos, dos resultados práticos.
Nos dois últimos casos (Nietzsche e pragmatismo), o critério da
verdade deixa de ser um valor racional e adquire um valor de existência, que
pode ser sintetizado na frase de Saint -Exupery: "A verdade para o homem é
o que faz dele um homem.
Há ainda os lógicos que buscam o critério da verdade na coerência
interna do argumento. Verdadeiro seria então o raciocínio que não encerra
contradições e é coerente com um sistema de princípios estabelecidos. Essa é a
verdade típica da matemática. Afirmar que por um ponto fora de uma reta só
passa uma paralela a essa reta pode ser verdadeiro se admitirmos os postulados
de Euclides, mas falso se adotarmos os princípios da geometria não-euclidiana.
A verdade pode ainda
ser entendida como resultado do consenso, enquanto conjunto de crenças aceitas
pelos indivíduos em um determinado tempo e lugar e que os ajuda a compreender o
real e agir sobre ele.
É difícil e complexa a discussão a respeito dos critérios da verdade,
mesmo porque são diferentes as posturas que temos diante do real quando nos
dispomos a compreendê-lo. Por exemplo, alguém poderá dizer - bem na linha dos
positivistas que só a ciência nos dá o conhecimento verdadeiro, uma vez que os
critérios de verificabilidade (pelo menos das ciências da natureza, como a
física) nos levam a conclusões seguras, objetivas, aceitas pela comunidade dos
cientistas e que, ainda por cima, com o desenvolvimento da tecnologia, resultam
em eficácia no agir.
Por outro lado, não há como deixar de reconhecer que a ciência, sendo
um conhecimento abstrato, seleciona o que lhe interessa conhecer e reduz as
infinitas possibilidades do real, excluindo o sujeito com suas emoções e
sentimentos. Nesse sentido, por que recusar um outro tipo de verdade, aquela
intuida pelo sentimento? E não se poderia falar na verdade que resulta da
experiência artística, já que também a arte é uma forma de conhecimento?
E PARA VOCÊ, o que é a VERDADE??? Responda em seu caderno como questão primeira, e em seguida faça uma mapa conceitual do pensamento dos filósofos sobre a VERDADE.
E PARA VOCÊ, o que é a VERDADE??? Responda em seu caderno como questão primeira, e em seguida faça uma mapa conceitual do pensamento dos filósofos sobre a VERDADE.
FILOSOFANDO, INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
MARIA LUCIA DE ARRUDA ARANHA
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