Ceticismo
"Nada existe.
Mesmo se existisse alguma coisa, não poderíamos conhecê-la; concedido que algo
existe e que o podemos conhecer, não o podemos comunicar aos outros."
Essas três proposições, atribuídas a Górgias (séc. IV a.C.). Um dos
representantes da sofística exemplificam a postura conhecida como ceticismo.
Naquele mesmo século,
outro grego chamado Pirro, acompanhando Alexandre Magno em suas expedições de conquista,
conheceu muitos povos com valores e crenças diferentes. Como geralmente fazem
os céticos, deve ter confrontado a diversidade das convicções que animam os
homens, bem como as diferentes filosofias tão contraditórias, abstendo-se no
final de aderir a qualquer certeza.
Pelo menos semelhante
no gosto pelas viagens, o filósofo renascentista Montaigne retoma os temas do
ceticismo. Contrapõe-se às certezas da escolástica decadente e à intolerância
de um período de lutas religiosas, analisando nos Ensaios a influência de
fatores pessoais, sociais e culturais na formação das opiniões.
Skeptikós, em grego,
significa "que observa", "que considera". O cético tanto
observa e tanto considera que conclui, nos Casos mais radicais, pela
impossibilidade do conhecimento; e nas tendências moderadas suspensão
provisória de qualquer juízo.
Portanto, há
gradações no ceticismo. Os céticos moderados admitem uma forma relativa de
conhecimento (relativismo), reconhecendo os limites para a apreensão da
verdade.
Para outros moderados,
mesmo que seja impossível encontrar a certeza, não se deve abandonar a busca.
Mas para o ceticismo radical, como o pirronismo, se a certeza é impossível, é
melhor renunciar ao conhecimento, o que traz, como conseqüência prática, a
indiferença absoluta em relação a tudo.
O ceticismo radical se contradiz ao se
afirmar, pois concluir que "toda certeza
é impossível e a verdade é inacessível"
não deixa de ser uma certeza, e tem valor de verdade.
Dogmatismo
Dogmatíkós, em grego,
significa" que se funda em princípios" ou "relativo a uma
doutrina". Dogmatismo é a doutrina segundo a qual o homem pode atingir a
certeza.
Filosoficamente é a
atitude que consiste em admitir que a razão humana tem a possibilidade de conhecer
a realidade, Do ponto de vista religioso, chamamos dogma a uma verdade
fundamental e indiscutível da doutrina. Na religião cristã, por exemplo, há o
dogma da Santíssima Trindade segundo o qual as três pessoas (Pai, Filho e Espírito
Santo) não são três deuses, mas um. Deus é uno e trino. Não importa se a razão
não consegue entender, já que é um princípio aceito pela fé e o seu fundamento
é a revelação divina.
Quando transpomos a
idéia de dogma para o campo não -religioso, ela passa a designar as verdades
não-questionadas e inquestionáveis. S ó que, nesse caso, nau se estando mais no
domínio da fé religiosa, o dogmatismo torna -se prejudicial. já que o homem, de
posse de uma verdade, fixa -se nela
e abdica de continuar a busca, O mundo muda,
os acontecimentos se sucedem e o homem dogmático permanece petrificado nos
conhecimentos dados de uma vez por todas. Disse Nietzsche que "convicções
são prisões". Refratário ao diálogo, o homem dogmático teme o novo e não
raro se torna intransigente e prepotente. Quando resolve agir, o fanatismo é
inevitável, e com ele, a justificação da violência.
Também chamamos
dogmáticos os seguidores de "escolas" e tendências quando se recusam
a discutir suas verdades, permanecendo refratários às mudanças.
Quando o dogmatismo atinge
a política, assume um caráter ideológico que nega o pluralismo e abre caminho
para a imposição da doutrina oficial do Estado e do partido único, com todas as
infelizes decorrências, como censura e repressão. Em nome do dogma da raça
ariana, Hitler cometeu o genocídio dos judeus e ciganos nos campos de
concentração.
Além dos significados
comuns do conceito de dogmatismo, é preciso ressaltar outro, denunciado por
Kant na Crítica da razão pura. Como se propôs a fazer a avaliação das reais
condições dos limites da razão para conhecer, Kant chama de dogmáticos todos os
filósofos anteriores, inclusive Descartes., por não terem colocado a questão da
crítica do conhecer como discussão primeira. Ou seja, aqueles filósofos
"não acordaram do sono dogmático", no sentido de ainda terem uma
confiança não-questionada no poder da razão em conhecer.